"É preciso um trabalho integrado com os diferentes sectores da comunidade. As escolas, neste momento, não estão a conseguir encaminhar as crianças e jovens que precisam de intervenção na área clínica e da saúde para os Centros de Saúde porque estes não têm capacidade de resposta. Não têm psicólogos para responder a estas necessidades", defende Sofia Ramalho, vice-presidente da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
"Tem sido incansável o trabalho dos psicólogos nas escolas. Mas as necessidades de intervenção individual, cada vez mais necessárias e urgentes, não permitem um trabalho de prevenção e promoção para toda a escola, também ele essencial", reforça Sofia Ramalho.
Desde 2020 que a OPP tem alertado sucessivamente para o facto de as crises provocadas pela Pandemia COVID-19 terem acentuado as desigualdades preexistentes e aumentado os factores de risco para o desenvolvimento saudável e o bem-estar das crianças e jovens.
Os dados do estudo do Ministério da Educação, publicado hoje, coordenado pela Psicóloga Margarida Gaspar de Matos e do qual a OPP é parceira, evidenciam a gravidade dos impactos da pandemia: "Cerca de um terço dos alunos acusa sinais de sofrimento psicológico e défice de competências emocionais em pelo menos uma das medidas consideradas, apresentado sinais de sofrimento psicológico a exigir atenção". No caso dos Professores do ensino básico ao secundário e dos Educadores das salas dos 5 anos, pelo menos metade acusa sinais de sofrimento psicológico.
Problemas de Saúde Psicológica em crianças e jovens associados a taxas mais elevadas de incapacidade duradoura, insucesso escolar
Ampla evidência científica demonstra que as dificuldades e os problemas de Saúde Psicológica nas crianças e nos jovens estão associados a taxas mais elevadas de incapacidade duradoura, insucesso escolar, instabilidade futura no emprego ou défice no funcionamento social e familiar. Fatores que muitas vezes conduzem a uma espiral de desvantagens que podem passar de geração em geração, que se tornam difíceis de reverter e que representam custos económicos e sociais elevados.
Deste modo, consideramos urgente que as crianças e os jovens sejam alvos prioritários de intervenção, nomeadamente através da prevenção e combate das desigualdades e da promoção da Saúde Psicológica e do Bem-Estar, enquanto factores determinantes para o desenvolvimento sustentável das comunidades e das suas crianças/jovens.
Neste sentido, subscrevemos a importância das medidas propostas de reforço da literacia e das capacidades e competências individuais (nomeadamente das competências socioemocionais e da resiliência) quer das crianças e jovens, quer dos Professores/Educadores e restante comunidade educativa. A promoção destas competências implica o aumento do número e a continuidade do trabalho dos Psicólogos e Psicólogas presentes nas escolas. Deve ainda acontecer de forma consistente ao longo do currículo, do ambiente escolar e dos serviços escolares, integrada nas políticas, programas e estruturas dentro e fora da escola.
Proteger as crianças e os jovens através da prevenção e promoção da Saúde Psicológica e do Bem-Estar significa criar ambientes de qualidade (a nível individual, familiar, ambiental, social e económico). E para isso são necessários Psicólogos e Psicólogos que trabalhem integrados numa relação de parceria entre as escolas e os serviços públicos das comunidades, particularmente os serviços sociais e de saúde.