Ordem dos Psicólogos

Certificação APCER

Dia Mundial da Saúde Mental

10.outubro.2018

10 anos de "abandono mental" em Portugal: Como o Programa Nacional de Saúde Mental falhou na melhoria do acesso dos portugueses às respostas na área da saúde mental e na melhoria dos indicadores nacionais. Portugueses gastam 600 mil euros por dia em psicofármacos e continuam com acesso limitado a psicólogos no SNS, a serviços de Psicologia na ADSE e outros subsistemas, e nos seguros de saúde.

Hoje, dia 10 de Outubro, celebra-se o Dia Mundial da Saúde Mental, sendo este um importante momento de reflexão e de análise no que às questões na saúde mental em Portugal dizem respeito.

Lamentavelmente, mais de 10 anos após a criação do Programa Nacional de Saúde Mental verificam-se algumas tendências: (i) A inexistência de uma estratégia integrada para a promoção da saúde mental e para a prevenção das perturbações mentais, tal como a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) tem vindo a alertar continuamente; (ii) o aumento da prevalência da depressão e ansiedade na população portuguesa; (iii) a quase inexistência de seguros de saúde com cobertura para doenças mentais, ao contrário do que acontece noutros países da Europa; (iv) e a não publicação da nova tabela da ADSE acordada com o Governo e que prevê o aumento da comparticipação das consultas de Pscologia neste subsistema e o fim da necessidade de prescrição das mesmas por médicos.
Desta forma, a OPP considera que chegou o momento de assumir que o "actual modelo está gasto e não funciona", sendo imperativo delinear-se uma estratégia que privilegie a prevenção, nomeadamente para reduzir o risco e melhorar a identificação e o tratamento precoce. Só assim será possível reduzir o sofrimento das pessoas, assim como os custos associados do Estado e da economia portuguesa.

1 em cada quatro portugueses sofre de um problema de saúde mental
De acordo com o primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, cerca de um em cada quatro portugueses sobre de um problema de Saúde Mental (23% da população).

Número de portugueses com depressão aumentou 43%
Actualmente, Portugal é o segundo país da Europa com maior prevalência de doenças mentais na população (com um valor quase idêntico ao da Irlanda do Norte, que ocupa o primeiro lugar) e quase metade dos cidadãos (43%) já teve uma perturbação mental durante a sua vida. Importa sublinhar que em apenas 6 anos o número de portugueses (entre os inscritos nos centros de saúde) com depressões aumentou 43%: se em 2011 a taxa era de 6,85%, em 2017 este valor aumentou para 9,8%.

Em 2016, as perturbações depressivas eram a terceira principal doença causadora de morbilidade em Portugal nas mulheres, e a quarta nos homens, contribuindo para cerca de 70% dos cerca de 1.000 suicidios (3 por dia) em Portugal. Destaque ainda para a perturbação de ansiedade que afecta cerca de meio milhão de portugueses (4,9% da população).

Apenas em 2016, foram prescritas cerca de 30 milhões de embalagens de psicofármacos
29.631.192 de embalagens de ansiolíticos, sedativos, hipnóticos, antipsicóticos e antidepressores foram prescritas em 2016, sendo este o dobro do número registado em 2013, que corresponde a 15.048.043 embalagens.

Portugueses gastaram mais de 600 mil euros por dia em psicofármacos
Registou-se um aumento de 112% de embalagens prescritas de antidepressores (5.556.092 em 2013 para 11.795.898 em 2016), assim como um crescimento de 68% da dose diária definida (263.414.234 em 2012 e 358.197.748 em 2016). Por dia, os portugueses gastaram cerca de 250 mil euros apenas com este psicofármaco.

Francisco Miranda Rodrigues, Bastonário da OPP, lamenta a "inexistência de dados relativos a 2017 disponibilizados pelo Programa Nacional da Saúde Mental", ainda que acredite que pouco se tenha alterado no panorama "na medida em que as políticas nesta área, de um modo geral, continuam as mesmas". "É necessário reforçar-se a aposta na prevenção e no ataque à perturbação mental antes de se tornar grave; caso contrário, torna-se cada vez mais difícil resolver, com mais custos e complicações para o próprio, família, ...". "O Programa Nacional de Prevenção da Depressão continua sem ser aplicado apesar da receptividade do Governo à proposta da OPP", adianta o representante da OPP, mostrando-se ainda preocupado com o facto de Portugal ser dos países europeus com maior taxa de prevalência nas perturbações mentais, e um dos que tem menor cobertura na área da saúde mental por parte dos seguros de saúde.

Este ano, a Organização Mundial de Saúde escolheu o tema "os jovens e a saúde mental num mundo em mudança", pois é nesta fase da vida que aparecem metade das perturbações mentais e por ser estratégico a aposta na promoção da saúde mental e na prevenção. O Bastonário da OPP lança um apelo, neste Dia Mundial da Saúde Mental, a "todos para se fazer da prevenção em saúde mental uma prioridade sob pena de hipotecarmos o futuro das nossas crianças e jovens e de Portugal. Este repto não é apenas ao Governo, mas também às instituições sociais e comunitárias, às empresas e seguradoras. É com todos, somente com todos, que conseguiremos alterar o paradigma, promover as pessoas, prevenir a doença mental grave e acautelar o futuro de Portugal e o bem-estar dos portugueses".

Recorde-se ainda que este ano, após mais de 20 anos, o Ministério da Saúde voltou a abrir um concurso para a contratação de 40 novos psicólogos para os Cuidados de Saúde Primários do SNS. Segundo Francisco Miranda Rodrigues, "é um primeiro passo, mas consideramos um número claramente insuficiente. Os portugueses querem promover a sua saúde mental e a da sua família, mas não têm acesso aos serviços de psicologia". "Há décadas que não se investe em prevenção na área da saúde mental e há décadas que consumimos cada vez mais psicofármacos e que a incidência de doença mental em Portugal aumenta", conclui.