Ordem dos Psicólogos

Certificação APCER

Telmo Mourinho Baptista no IX Congresso da FIAP e 2º Congresso da OPP

"Poupar no sofrimento das pessoas, esta deve ser a razão de ser da nossa acção"

02.outubro.2014

Clique em "Ler Mais" para ver o vídeo e ler o discurso de Telmo Mourinho Baptista, Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, na Sessão de Abertura do IX Congresso Iberoamericano de Psicologia e 2º Congresso da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Refira-se que esta cerimónia contou com a presença de Paulo Macedo, Ministro da Saúde do Governo de Portugal, de diversos deputados, embaixadores e representantes de entidades públicas, e de inúmeros profissionais que encheram o Grande Auditório do Centro Cultural de Belém.

 

"Bem-vindos, bienvenidos, welcome ao  9º Congresso FIAP e 2º Congresso da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Quero agradecer a presença de todos os convidados, conferencistas e participantes neste congresso que, mais uma vez , conta com o alto patrocínio de S. Exª o Presidente da República, a quem estamos muito gratos, pois desde a primeira hora que recebemos o seu apoio.

Regressamos ao mesmo local onde realizámos o 1º Congresso da Ordem, com um sentido de continuidade, mas também de crescimento. A responsabilidade acrescida de juntar ao 2º Congresso da Ordem dos Psicólogos o  9º Congresso da FIAP.  Estendendo o espaço de diálogo para além das nossas fronteiras, abraçando o mundo ibero-americano.  Foi isso que procurámos fazer, num congresso que se traduz em cerca de 1700 apresentações, 24 conferências, 12 workshops, 12 lançamentos de livros, vários momentos musicais e de convívio, stands com produtos de interesse para a comunidade de psicólogos nacionais e internacionais e, cerca de 2200 participantes. Obrigado por fazerem parte desde momento e por nos ajudarem a mostrar a afirmação dos psicólogos no espaço-iberoamericano. 

Este espaço geográfico e de línguas próximas, o espanhol e o português que têm em todo o mundo cerca de 630 milhões de falantes nativos.  Um universo de línguas, culturas mas também de problemas para resolver, a que os psicólogos podem dar um contributo central.

Terminei o 1º Congresso da Ordem dos Psicólogos Portugueses, com um pedido de que cada um de nós, psicólogos, transformasse  cada dia num momento de afirmação dos psicólogos. Regresso  com a afirmação dos psicólogos no espaço-iberoamericano, tema deste congresso.

E que melhor exemplo dessa afirmação do que a enorme participação com trabalhos  neste evento? O programa fala por si. A dificuldade será na escolha, de entre as 15 salas em funcionamento simultâneo. Mas antes esta dificuldade, resultante da abundância.

Os psicólogos compreendem bem o significado das crises e o impacto das mesmas nas pessoas, nas famílias, na vida pessoal e de  trabalho . Afinal, é sua tarefa crucial a compreensão do Outro, como parte do processo de resolução dos problemas.

Por isso, também compreendem as dificuldades em fazer crescer os serviços que podem prestar ajuda às pessoas, principalmente em alturas de crise. Mas, por muita compreensão que possam ter, não podem ser vítimas dessa mesma compreensão, e esperar  para que os seus pedidos sejam atendidos depois de todos os outros. Principalmente quando reconhecem que têm os meios para ajudar na resolução dos problemas.

Não faço deste púlpito um lugar de reivindicação pública para criar embaraços, promover a demagogia  ou o populismo. O que temos a dizer temo-lo dito a V. Ex.ª e a todos os serviços, bem como a outros ministérios, não nos  eximindo de dar a nossa opinião como nos compete e está nos deveres de constituição da Ordem. Quero, por isso, a agradecer  a forma como têm sido acolhidas as nossas opiniões pelos diversos serviços do Ministério da Saúde, e afirmar que continuaremos a fazê-lo na defesa dos interesses dos cidadãos e dos profissionais de psicologia.  Porque, para a nossa profissão, e por força do que empreendemos, temos de assumir um magistério de provedor do cidadão.

Feitas as contas, pelo custo, ou melhor dito, pelo investimento de uma quantia equivalente a cerca de três horas de juros da dívida portuguesa, e relevo, três horas apenas, ter-se-ia a possibilidade de ter mais 190.000 horas de intervenção psicológica, numa possível cobertura de mais de 20.000 pessoas. Vale a pena meditar nestes números, e perguntar-nos, se não agora, quando?

Por isso,  esperamos que possam ser dados passos decisivos na criação de formas adicionais de prestação de cuidados.

E é porque temos a consciência da importância de uma boa gestão, que já demonstrámos e continuaremos a demonstrar como a intervenção psicológica poupa sofrimento, mas contribui também, e de forma decisiva para a redução dos gastos em saúde, em assistência social, na educação, na  justiça e muitas outras áreas.

Investir na intervenção psicológica faz todo o sentido em termos pessoais, económicos e sociais. E se entendido num plano de mais longo prazo, é um investimento com enorme retorno.

Remediar sai mais caro e produz dano. Por isso é tão importante a detecção precoce dos problemas e uma rápida forma de intervenção. Poupa sofrimento, poupa nos gastos. E apesar se ser tão conhecida a importância da prevenção, continua a ser um parente pobre das intervenções, pois os resultados não são imediatos e vêm-se muitas vezes na ausência do número  ou intensidade de problemas esperados.

Fernando Pessoa afirmava “Quem não quiser sofrer que se isole, feche as portas da sua alma quanto possível à luz do convívio “. Mas quem pode hoje em dia, numa sociedade em permanente comunicação fechar as portas à luz do convívio? E com que custo? E com que dano? Quando sabemos que a nossa existência é cada vez mais interdependente, resultado da interacção com os outros, diminuindo os isolamentos involuntários que tanto impedem as pessoas de se realizarem.

Por isso não podemos deixar passar a falta de intervenção adequada para os problemas crescentes da depressão, da ansiedade, dos consumos excessivos, dos problemas familiares, educacionais e organizacionais, e tantos outros que cada vez afecta mais as sociedades, e por consequência a sociedade portuguesa.

Os  portugueses têm sofrido muito e de diversas maneiras nos últimos  anos.  E fazem-no  de forma estóica, e na maior parte das vezes, silenciosa. Mas não se deve ver esse silêncio como ausência de dano. O sofrimento silencioso está lá, e melhor que ninguém, nós os psicólogos o sabemos. Ouvimo-lo todos os dias, nas escolas, nos centros de saúde, nas organizações, nos consultórios.

Diz-se que uma das tarefas principais da intervenção psicológica é a de devolver a esperança, de forma a que as pessoas, as famílias, os grupos, as organizações acreditem que podem, com o seu esforço, mudar e alcançar um estado maior de bem-estar. A forma de devolução dessa esperança encontra expressão nas diversas técnicas desenvolvidas pelos psicólogos, que permitem um trabalho com os seus clientes que lhes permita o alcançar dos seus objectivos.  Temos hoje em dia uma ciência com mais de cem anos, sólida, com resultados demonstrados, em constante evolução e pronta a ser traduzida em muitas formas de contribuição para o bem-estar das pessoas e das comunidades.

A campanha “Encontre uma Saída” que procura sensibilizar os cidadãos para um conhecimento mais aprofundado sobre os problemas psicológicos e formas  de ajuda, chegou a cerca de um milhão de portugueses. Agora, para além da informação sobre os problemas psicológicos e as formas de intervenção, os cidadãos podem encontrar no site criado para o efeito, e geo-referenciados cerca de 5000 psicólogos.  Mas todo este mundo de possibilidades precisa da ajuda de formas públicas e privadas de intervenção. Seja pela inclusão dos cuidados de saúde psicológica em seguros, pela maior acessibilidade aos serviços públicos, pela detecção precoce de problemas na escola ou pela inclusão de intervenções psicológicas na saúde dos trabalhadores nas empresas e no aumento da produtividade.

A Ordem tem uma intervenção focal num mundo global. Não pode deixar de intervir em inúmeros espaços, porque só assim potencia o maior reconhecimento e utilização dos serviços dos psicólogos. É fundamental que os governos entendam a importância da intervenção, mas que também a negoceiem internacionalmente nos compromissos que assumem, como com os Objectivos para o Desenvolvimento Sustentável que estão a ser discutidos pelos estados-membro da ONU. Porque esse compromisso, bem como outros , por exemplo com a OMS, são motores de uma acção fundamentada, que implica a possibilidade de intervenção de muitos psicólogos, e que em última análise se reflecte no seu trabalho quotidiano. Sem esquecer o papel fundamental das Universidades, e a nossa total disponibilidade para a colaboração,  apontando as necessidades de formação para o desenvolvimento e oportunidades futuras da profissão.  Trabalhando ainda com as organizações internacionais de psicólogos (como a FIAP, a EFPA e a PsiPLP)  para que a pressão se torne conjunta, contínua e eficaz.

Aquilo que um psicólogo estará a fazer amanhã, e no futuro, será o resultado da sua formação, somado às  oportunidades criadas por políticas que reconhecem a necessidade da intervenção, transformadas  em condições de trabalho efectivo.

Surge agora no horizonte uma nova comunidade que se pretende também afirmada e forte, a dos psicólogos dos países de língua portuguesa, PsiPLP.  Aos nosso colegas dos países de língua portuguesa quero deixar uma especial saudação, pois estão empenhados em aumentar as trocas de experiências e o desenvolvimento de projectos comuns. Temos de fazer acontecer esta comunidade, para que cresça com os psicólogos dos diversos países, e se torne uma fonte de oportunidades.

Quero ainda agradecer a todos os colegas que tão prontamente têm acorrido à discussão que temos tido sobre a s futuras especialidades. Os contributos extensos que temos recebido, sob múltiplas formas, enriquecem a proposta, e tornam-na  cada vez mais participada e consensual.  Estou certo que caminharemos para uma via de elaboração das especialidades que enriquecerá a nossa profissão, mostrando o quanto somos exigentes em termos de qualidade.  E não me posso esquecer da acreditação da formação que contribuirá para o reconhecimento das ofertas formativas de qualidade já existentes, em tantas organizações presentes no mercado.

Uma palavra aos nosso colegas em situação mais frágil de um ponto de vista profissional . Quero dizer-lhes que continuamos diariamente a desenvolver os esforços para que a sua situação possa melhorar, seja pela criação de mais locais de estágio, remunerados, maior inserção no mercado de trabalho utilizando todas as vias ao nosso dispor, ajudando na criação dos próprios projectos de trabalho e potenciação o desenvolvimento das suas competências. Acreditem, que não desistimos, que vos defendemos, que acreditamos no vosso valor e que trabalharemos convosco para a melhoria da vossa situação.

Mas, se como diz o grande poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, “a dor é inevitável, o sofrimento é opcional”, então temos de ajudar os cidadãos a encontrar cava vez mais opções para o seu sofrimento. E uma parte significativa dessas opções passa pelo maior acesso à intervenção psicológica, entendida no seu sentido mais abrangente, desde aquelas que procura remediar uma situação, às que procuram prevenir e até promover novas formas de lidar com o mundo.  Não podemos continuar a deixar que se pense que, se é uma questão mental não é a sério. As representações do mundo dão origem ao que de melhor e pior existe na humanidade. Estão na raiz do pensamento filosófico, da arte, da inovação , mas também das guerras, das dissensões, de confrontos muitas vezes evitáveis.

Por isso, o meu convite é de que vamos utilizar os recursos que já temos ao nosso dispor, para poupar no sofrimento dos portugueses.

Poupar no sofrimento das pessoas, esta deve ser a razão de ser da nossa acção.

Mostremos assim, que a nossa força reside na capacidade de gerar soluções, defender os mais vulneráveis e transformar as sociedades pela mudança de cada pessoa, ajudando-a no caminho da sua realização.  Assim se cumprirá uma das principais missões da psicologia".